“E
o dia esperado chegou! Chegou depressa, porque assim aprouve ao Senhor:
João Paulo II é Beato! João Paulo II é Beato pela sua forte e generosa
fé apostólica”.
Karol
Wojtyla, nome de batismo de João Paulo II, foi um dos homens mais
aplaudidos em todo o mundo. Nenhum papa foi tão recebido em todo o
mundo. Líderes de países e de diversas religiões o escutava.
Perdeu
uma irmã antes de nascer. Aos 9 anos, perdeu a mãe. Três anos depois,
perdeu seu único irmão. Foi criado sozinho pelo pai, um católico
praticante.
Quando
completou 18 anos, Karol mudou - se para Cracóvia. Era 1939, o mundo
vivia a Segunda Guerra Mundial. Em 1º de Setembro, o país foi invadido
pelos nazistas. Judeus eram perseguidos, a universidade foi fechada e
muitos de seus amigos foram levados para campos de concentração. Para
não ser mandado para fora do país, Karol conseguiu um emprego na
pedreira, e mais tarde, em uma indústria química.
Chamada a Santidade
A
guerra havia completado dois anos quando, ao voltar do trabalho,
encontra o corpo do pai. Completamente sozinho, o jovem Lolek se
refugia em oração. Passava horas escrevendo poemas saudando a Deus
consolando tantas perdas.
O
chamado a Santidade ficou claro depois de um acidente. Karol saía da
fábrica quando foi atropelado por um caminhão. Quando acordou,no
hospital, lhe contaram que uma mulher o socorrera. Para Karol foi um
sinal da Virgem Maria, de quem seria devoto pelo resto da vida. Quando
se recuperou, o fascínio pela religião estava mais forte. Voltou ao
trabalho, mas desistiu. Procurou o Arcebispo da região e pediu para
entrar no seminário. Queria ser padre. Quatro anos, foi ordenado
sacerdote. Em novembro, celebra sua primeira missa na cripta de São
Leonardo de Wavel. Logo foi enviado a Roma para completar os estudos.
Dois anos mais tarde voltou a Polônia. O carisma do Padre Karol era tão
forte que logo foi considerado o guia religioso da comunidade, em
especial dos Jovens: "É verdade que o Espírito paira aonde quer", escreveu em um poema "Soprou justamente em mim".
Da Polônia ao Vaticano: Primeiro Papa não Italiano em 455 anos
A
carreira de Karol Wojtyla dentro da Igreja Católica foi a mais rápida
que os fiéis já assistiram. Aos 38 anos, foi ordenado Bispo de Crocávia.
Com 47 anos se tornou o mais jovem cardeal da história da Igreja. Em
janeiro de 1978, morre o Papa Paulo VI. O religioso polonês participou
do conclave que nomeou o cardeal italiano Albino Luciani como papa, João
Paulo I. Mas, apenas 33 dias depois de nomeado, Luciani faleceu. Um
novo conclave tomou uma decisão histórica. Pela primeira vez em 455
anos, um não italiano ocuparia o trono de São Pedro. Pela primeira vez,
um polonês chefiaria a Igreja Católica. Aos 58 anos, Karol Wojtyla foi
eleito Papa João Paulo II.
Anuncio-vos
com grande alegria já temos o papa! O Eminentíssimo e Reverendíssimo
Senhor Dom Carlos (Karol) Cardeal da Santa Igreja Romana, Wojtyla, que
adotou o nome de João Paulo II.
No
primeiro dia de pontificado, João Paulo II passou a mensagem que
guiaria o resto de seus dias. Do alto da sacada da Basílica de São
Pedro, sua Santidade ergueu a cruz para o povo e clamou aos fiéis que
lotavam a praça: "Não Temam!Abram as portas a Cristo, uma após a outra" disse. Seu lema era Totus Tutus (Todo seu).
Leia o discurso do Papa no dia de sua posse:
"Só
uma palavra, entre tantas, sobe imediatamente aos Nossos lábios no
momento de Nos apresentarmos a vós depois da eleição para a Sede do
Apóstolo Pedro, e é palavra que faz ressaltar, pelo evidente contraste
dos Nossos limites pessoais e humanos, a responsabilidade imensa que Nos
foi confiada: Oh profundidade da sabedoria e da ciência de Deus! Quão
imperscrutáveis são os seus juízos e inacessíveis os seus caminhos! (Rm
11,33). De facto, quem poderia prever, depois da morte do inolvidável
Paulo VI, também o prematuro desaparecimento do seu amável sucessor João
Paulo I? E como poderíamos Nós prever que a formidável herança deles
passaria para os Nossos ombros? Por isso, devemos meditar sobre o
misterioso desígnio de Deus, providência e bondade, e não já para
compreender mas sim para adorar e orar. Sentimos, na verdade, dever
repetir a invocação do Salmista que, levantando os olhos, exclamava:
Donde me virá o auxílio? O meu auxilio vem do Senhor (Ps 120,1-2)"
João Paulo II e as Viagens Apostólicas no Brasil
O Papa João Paulo II esteve no Brasil em três ocasiões. A primeira delas, em 1980, foi
marcada pela expectativa dos brasileiros em receber pela primeira vez
um papa no país e pela beatificação do jesuíta espanhol José de
Anchieta, fundador da cidade de São Paulo. A
segunda aconteceu em 1991, quando o pontífice aproveitou para visitar
irmã Dulce, em Salvador. A última passagem de João Paulo II pelo Brasil
foi em 1997, quando rezou uma missa campal no Aterro do Flamengo, para 2 milhões de pessoas.
Em
1982, o Papa João Paulo II fez uma visita não oficial ao país ao
realizar um rápido discurso durante a escala de seu vôo no Rio de
Janeiro. Ele tinha como destino a Argentina.
Durante
as três visitas de João Paulo II no Brasil, tanto o Vaticano como os
Correios editaram selos comemorativos para registrar a passagem do
pontífice no país. Foram impressos oito selos pela Casa da Moeda do
Brasil. Um deles em homenagem póstuma, em 2005, ano da morte de João
Paulo II.
Havia
um carinho muito especial entre João Paulo II e o povo brasileiro, que é
considerado o mais católico do mundo. Por três vezes, ele visitou o
Brasil.
Primeira visita - 1980
Em
sua primeira visita, desembarcou em Brasília, ao meio-dia do dia 30 de
junho de 1980, oportunidade em que foi recebido pelo General João
Batista de Figueiredo, o último presidente do regime militar. Sua visita
teve como objetivo principal “reforçar a
união da família, conciliar as diversas tendências da Igreja Católica
(reprimir a ala liberal) e definir seu papel em relação ao Estado.
Na
primeira estadia entre nós, João de Deus - que de Brasília partiu para
Manaus - percorreu treze cidades em apenas doze dias. A maratona teve um
total de 30.000 km.
João Paulo II beatificou o jesuíta José de Anchieta, que chegou ao Brasil, em 1553,
para catequizar os habitantes do país. O Papa participou do X Congresso
Eucarístico Nacional, realizado entre 30 de junho a 12 de julho 1980,
em Fortaleza, no Ceará. Ele foi recebido pelo general João Batista
Figueiredo, último presidente brasileiro no período da ditadura
militar.
Segunda visita - 1991
Onze
anos mais tarde, entre 12 e 21 de outubro de 1991, esteve pela segunda
vez no Brasil, onde quebrou uma tradição: beijou novamente o solo
brasileiro, pois ele não costumava beijar o solo de um país que ele já
tinha visitado. Naquela oportunidade, João Paulo II visitou sete cidades
e fez 31 discursos e homilias.
O
Papa João Paulo II foi recebido pelo presidente Fernando Collor de
Mello. Em Salvador, capital baiana, ele visitou irmã Dulce, que estava
com a saúde debilitada. A religiosa ficou conhecida por se dedicar às
crianças carentes da Bahia.
Terceira visita - 1997 (Encontro Mundial da Família)
Sua última visita
ao Brasil ocorreu entre os dias 2 e 6 de outubro de 1997 e foi a mais
curta de todas. O Papa foi recebido pelo então presidente Fernando
Henrique Cardoso. Desta vez, já se notava o cansaço da idade. Abatido, o
Papa não conseguiu realizar o tradicional ato de beijar o chão, mas
mesmo assim, encantou multidões de fiéis que foram ao seu encontro em
busca de uma palavra de paz. No Rio de Janeiro, participou do Encontro
Mundial da Família, realizado no Maracanã. Em seus discursos, João Paulo
II condenou o divórcio, o aborto e os métodos contraceptivos. Ele
abençoou o Rio Janeiro aos pés do Cristo Redentor.
Perdão pelos Pecados em 1000 anos
No ano 2000, o Ano
Sagrado em que a Igreja refletiu os seus 2000 anos de História, João
Paulo II pediu perdão pelos pecados cometidos por católico romanos.
Apesar de não ter mencionado erros específicos, diversos cardeais
reconheceram que o papa se referia às injustiças e intolerância do
passado relativamente aos não-católicos. Nestes males reconhece-se o
período das Cruzadas, da Inquisição e a apatia da igreja. O pedido de
desculpas precedeu uma deslocação de João Paulo II à Terra Santa.
Foi criado
documento de noventa páginas pedindo perdão por uma série de pecados
cometidos em seus 2.000 anos de existência. Desde que foi escolhido para
o trono de São Pedro, em 1978, por quase uma centena de vezes o papa
João Paulo II mencionou erros históricos cometidos pela Igreja Católica e
pediu o perdão divino para a culpa que a instituição e seus seguidores
acumularam ao longo dos tempos. Pela primeira vez, contudo, todos esses
pecados do passado foram citados em conjunto, aproveitando o início da
Quaresma do ano 2000. O documento atende mais ao desejo de contrição dos
autores do que à necessidade de reparação das vítimas. Criada para ser
uma mensageira do amor entre os homens, a Igreja, levada por seu
crescente poder temporal, deu mostras de intolerância, opressão e
corrupção. Esses episódios do passado são hoje um peso na consciência do
catolicismo e é por eles que o papa não se cansa de se desculpar. "A Igreja hoje é mais livre para confessar seus pecados e convidar os outros a fazê-lo",
disse o cardeal Joseph Ratzinger, que presidiu a comissão designada
para colocar no papel as bases históricas e doutrinárias para o
mea-culpa.
O documento, intitulado "Memória e Reconciliação: a Igreja e as Culpas do Passado", agrupou as incorreções em blocos que abrangem praticamente toda a história da Igreja:
1)pecados
cometidos a serviço da verdade: intolerância com os dissidentes e
guerras religiosas. Compreendem as cruzadas e a Inquisição.
2)pecados
que comprometeram a unidade dos cristãos. Abrangem os grandes cismas,
que afastaram os católicos dos ortodoxos e dos protestantes,
principalmente.
3)pecados
contra os judeus. Referem-se à campanha de depreciação contra o povo
judeu e de certa forma ao papel ambíguo da Santa Sé durante a
perseguição nazista aos judeus na II Guerra Mundial.
4)pecados
contra os direitos dos povos e o respeito à diversidade cultural e
religiosa. Aqui o alvo é a evangelização forçada colocada a serviço da
colonização de povos dominados.
O documento lembra
ainda os deslizes de ordem geral da Igreja contra a dignidade humana e a
justiça social. Além de aplacar a própria consciência, a atitude da
Igreja significa uma iniciativa importante em direção à reconciliação e à
convivência com outros grupos religiosos. O ato de humildade é também
uma demonstração de coragem. A Igreja não errou mais do que as outras
grandes instituições que, como ela, desempenharam um papel determinante
na História da humanidade. Suas falhas devem ser vistas e entendidas
dentro do contexto da época em que aconteceram. O papado de João Paulo
II foi marcado pela separação entre fé e política, e o pedido de perdão
não foge à regra. Os erros do passado estiveram sempre relacionados à
atuação terrena da Igreja. E é desse mal que o papa se empenha em
livrá-la.
"O Santo Padre morreu esta noite às 21h37 no seu apartamento privado"
O
anúncio da morte do Pontífice foi dado pelo porta-voz do Vaticano,
Joaquín Navarro Valls, perante mais de cem mil pessoas que faziam
vigília na Praça de São Pedro. O polonês Karol Wojtyla, ou João Paulo
II, morreu após dois meses de internações e incertezas sobre sua saúde.
Ele foi internado
pela primeira vez em 1º de fevereiro no hospital Gemelli, para onde ele
voltou no dia 24 para se submeter a uma traqueostomia. O Papa chegou a
deixar o hospital em março, mas seu estado piorou logo depois da Páscoa.
Seu funeral foi um dos maiores eventos religiosos da história,
acompanhado por mais de três milhões de fiéis.
A noticia da sua
morte foi quase de imediato noticiada por todas as cadeias de televisão
mundiais, sendo primeiramente transmitida por um emisário do vaticano.
De momento reza-se o terço por sua santidade, um terço que é indicado
como o seu perferido, um terço cantado em latim mas que espantosamente é
um terço português, o terço que fala da aparição da Virgem Maria aos
três pastorinhos a 13 de Maio.
De Papa João Paulo II à Bem - Aventurado João de Deus
Em uma cerimônia
solene na presença de mais de 1 milhão de pessoas que lotaram a praça de
São Pedro, segundo a polícia romana, o Papa Bento XVI proclamou beato o
seu antecessor, João Paulo II (1920-2005) no dia 1 de maio de 2011.
A cerimônia teve
início às 10 horas no horário local (5h de Brasília), pelo papa e outros
800 sacerdotes presentes. Com um cálice e mitra que foram usados nos
últimos anos de pontificado de João Paulo II e com uma vestimenta que
também pertenceu a seu antecessor, Bento XVI abriu a cerimônia com uma
saudação em latim, que foi traduzida simultaneamente em espanhol,
francês, português, francês, inglês, alemão e polonês pela Rádio
Vaticano.
Um cardeal leu um
texto sobre a vida do pontífice, morto em 2005, após 27 anos de papado.
Foram destacadas virtudes de João Paulo II, como seus dotes
intelectuais, morais e espirituais.
Após a
leitura, ocorreu o principal momento da cerimônia, em que foi descerrado
um retrato de João Paulo II, a partir de então denominado beato. "Concedemos que o venerado servo de Deus João Paulo II, Papa, seja de agora em diante chamado beato", proclamou Bento XVI.
Muitos aplausos e
gritos de "Santo subito" (Santo já), como no dia do funeral de João
Paulo II, foram ouvidos na praça, repleta de pessoas que exibiam
bandeiras de muitos países, entre elas a polonesa e a brasileira.
A
freira francesa irmã Marie Simon-Pierre Normand - cuja a cura do mal de
Parkinson, a mesma doença degenerativa do papa, em junho de 2005, é
tida como a primeira graça de João Paulo II- levou ao altar uma ampola
contendo sangue do Papa, enquanto outra religiosa que o acompanhou
durante o papado, levou algumas de suas relíquias.
Os primeiros que
entraram fizeram-no na adjacente Via da Conciliação e durante a
madrugada se abriram as entradas à Praça de São Pedro.
A vigília
começou com um vídeo do ano 2000 de João Paulo II durante a Jornada
Mundial da Juventude de Roma e prosseguiu com o canto de "Jesus Christ you are my life", interpretado pelo Coro de da Diocese de Roma e da Orquestra do Conservatório de Santa Cecilia.
"Ele já era santo em vida",
afirmou emocionado Joaquín Navarro Valls, o espanhol que durante 22
anos foi seu porta-voz e que neste sábado, ao lado do antigo secretário
particular Stanislaw Dziwisz, homenageou Wojtyla junto a dezenas de
milhares de fiéis de vários países.
G1 - Portal de Notícias da Globo
Revista Ana Maria Especial (João de Deus)
Santa Sé