A História Eclesiástica, mais precisamente na categoria litúrgica, indica como já houve concessão ou restrição de insígnias e paramentos entre membros da hierarquia da Igreja – entre sacerdotes e bispos e entre prelados e papas.
Entre aqueles, por exemplo, sabemos do uso difundido de dalmática sob a casula em tempos imemoriais da Igreja, mas que posteriormente foi restringido aos bispos e abades. Entre prelados e papas, temos notícia da concessão destes do pálio pastoral aos arcebispos, do tabarro vermelho a alguns bispos, da falda, tiara e sédia ao Patriarca de Lisboa, entre outros. De qualquer modo, mesmo na concessão de insígnias ou paramentos, os papas permaneceram com alguma distinção, como acontece ao seu pálio pastoral que é o único a possuir as cruzes vermelhas. Algo parecido acontece entre o báculo pastoral dos bispos e a férula pontifícia:
Com informações do historiador da Igreja italiano Alberto Melloni, em artigo publicado no jornal Corriere della Sera em 08 fevereiro 2010
Desde as miniaturas do 18º Concílio de Toledo em 702, e depois na arte sacra, nota-se a diferença entre o pastoral usado pelos bispos e o usado pelo Papa: aquele tem uma volta na extremidade superior e este, termina com uma cruz sem o Crucificado. Mas, somente no século XIII, com a forma monárquica dada ao papado por Inocêncio III e a defesa teológica apresentada por São Tomás de Aquino, foi confirmado que o pastoral dos bispos deveria se curvar com a sua dependência hierárquica à férula da plenitude do poder papal.
Se o Papa não é um bispo como outros, mas é a cabeça do episcopado, ele também passa a receber, junto com o pálio pastoral, o Anel do Pescador e o triregnum, a férula com uma oração do Arcipreste da Basílica de São Lourenço Fora-dos-muros, igreja romana que até a metade do século XIX gozava do título de “patriarcal” – status equivalente a “Maior” desde que Bento XVI em 2005 renunciou a se declarar como “Patriarca do Ocidente”.
A partir do século XVI, porém, a insígnia é usada em circunstâncias muito raras, apesar de, dever possuir as mesmas cerimônias do báculo a um bispo: ser usado enquanto se desloca de um lugar a outro, na administração dos Sacramentos, na homilia etc. O Papa Paulo VI, ao passo que determinava e promulgava a reforma litúrgica depois do Concílio Vaticano II, restaurou o uso original da férula no dia da conclusão do mesmo Concílio, inaugurando a férula de traços modernos e curvos e com o inédito Crucificado, de autoria do escultor napolitano Lello Scorzelli (1921-1997). Os Papas posteriores a usaram, mas isto é assunto para outro artigo.
Direto da Sacristia