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A Férula Papal

A História Eclesiástica, mais precisamente na categoria litúrgica, indica como já houve concessão ou restrição de insígnias e paramentos entre membros da hierarquia da Igreja – entre sacerdotes e bispos e entre prelados e papas. 

Entre aqueles, por exemplo, sabemos do uso difundido de dalmática sob a casula em tempos imemoriais da Igreja, mas que posteriormente foi restringido aos bispos e abades. Entre prelados e papas, temos notícia da concessão destes do pálio pastoral aos arcebispos, do tabarro vermelho a alguns bispos, da falda, tiara e sédia ao Patriarca de Lisboa, entre outros. De qualquer modo, mesmo na concessão de insígnias ou paramentos, os papas permaneceram com alguma distinção, como acontece ao seu pálio pastoral que é o único a possuir as cruzes vermelhas. Algo parecido acontece entre o báculo pastoral dos bispos e a férula pontifícia:


Com informações do historiador da Igreja italiano Alberto Melloni, em artigo publicado no jornal Corriere della Sera em 08 fevereiro 2010

João Paulo II pluvial férula 3 barras abertura Ano Redenção 25 março 1983Desde as miniaturas do 18º Concílio de Toledo em 702, e depois na arte sacra, nota-se a diferença entre o pastoral usado pelos bispos e o usado pelo Papa: aquele tem uma volta na extremidade superior e este, termina com uma cruz sem o Crucificado. Mas, somente no século XIII, com a forma monárquica dada ao papado por Inocêncio III e a defesa teológica apresentada por São Tomás de Aquino, foi confirmado que o pastoral dos bispos deveria se curvar com a sua dependência hierárquica à férula da plenitude do poder papal.

Se o Papa não é um bispo como outros, mas é a cabeça do episcopado, ele também passa a receber, junto com o pálio pastoral, o Anel do Pescador e o triregnum, a férula com uma oração do Arcipreste da Basílica de São Lourenço Fora-dos-muros, igreja romana que até a metade do século XIX gozava do título de “patriarcal” – status equivalente a “Maior” desde que Bento XVI em 2005 renunciou a se declarar como “Patriarca do Ocidente”. 

A partir do século XVI, porém, a insígnia é usada em circunstâncias muito raras, apesar de, dever possuir as mesmas cerimônias do báculo a um bispo: ser usado enquanto se desloca de um lugar a outro, na administração dos Sacramentos, na homilia etc. O Papa Paulo VI, ao passo que determinava e promulgava a reforma litúrgica depois do Concílio Vaticano II, restaurou o uso original da férula no dia da conclusão do mesmo Concílio, inaugurando a férula de traços modernos e curvos e com o inédito Crucificado, de autoria do escultor napolitano Lello Scorzelli (1921-1997). Os Papas posteriores a usaram, mas isto é assunto para outro artigo.

Direto da Sacristia