Maio de 2013. Baependi está em festa e as bandeirinhas amarelas anunciam: Nhá Chica agora é uma Bem-Aventurada!
Analfabeta,
negra, filha de mãe solteira e neta de escravos. Para quem não conhece,
eis Francisca de Paula de Jesus, ou melhor, Nhá Chica, a mais nova
Bem-Aventurada da Igreja Católica: sua beatificação está confirmada para
4 de maio na mesma Baependi (MG) que a recebeu ainda menina junto com a
mãe Isabel Maria, ex-escrava, e o irmão Teotônio. Ali, a família foi
morar em uma pequena casa localizada na hoje chamada Rua da Conceição e
logo depois, em 1818, sofreria um golpe: as crianças ficaram órfãs. Sem
maiores recursos, Francisca e Teotônio simplesmente foram entregues aos
cuidados de Deus e da Virgem Maria. Ainda assim se criaram. Sinhá, como
Francisca chamava Nossa Senhora – e como também os escravos se referiam
aos seus senhores –, conquistou o coração da menina, que, seguindo os
conselhos da mãe, cresceu em uma vida de oração, caridade e total
entrega a Deus. Casta, jamais se casou. Faleceu em 1895, já sob uma
grande fama de santidade. Era conhecida como a Santa de Baependi.
Segundo dom Diamantino Prata de Carvalho, bispo de Campanha (MG), a humildade e a disponibilidade em atender as pessoas eram marcas da Bem-Aventurada.“Nhá
Chica foi consagrada a Deus e ao próximo e, experimentando a orfandade e
a falta de amor, foi capaz de testemunhar esse amor profundo de Deus
para conosco. Da mesma forma, ela orientava as pessoas. Nhá Chica
aconselhava o próximo a viver a dignidade de filhos e filhas de Deus”, testemunha.
Sonhos
Uma
noite, segundo relatos, Nhá Chica sonhou com a Imaculada Conceição. No
sonho, Nossa Senhora pedia que a Santa de Baependi construísse uma
capela em sua honra. Após esmolar por mais de 30 anos, conseguiu
realizar o pedido de sua Sinhá e construiu uma igrejinha ao lado de sua
casa. Ali, venerava uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição
herdada da mãe. “Ela sonhou também que a
Virgem Maria lhe pedia um órgão de fole francês para a capela. Um
padre, no entanto, explicou a Nhá Chica que se tratava, na época, de um
instrumento musical muito caro. “Mas se a Sinhá quer, vou comprar”,
teria respondido. “Então ela pediu esmolas até conseguir o valor”, relata Yolanda Aparecida Fernandes, membro do Conselho de Comunicação da Associação Beneficente de Nhá Chica (ABNC).
O
sonhado órgão foi comprado em Barra do Piraí (RJ) e, a bordo de trem e
de carroça, chegou a Baependi. Instalado no presbitério, no entanto, uma
decepção. Ele não funcionou! Mas Nhá Chica não era mulher de desistir:
ajoelhou-se diante do altar, rezou para a Sinhá e esta lhe prometeu que o
instrumento haveria de tocar às 15 horas de sexta-feira, a hora da
agonia de Jesus. É claro que na data e hora marcada, com a capela
lotada, não deu outra: os acordes musicais do órgão encheram o ar.
Profecias
“Sua
fama chegou à corte do Império, no Rio de Janeiro (RJ), a ponto de um
conhecido conselheiro, João Pedreira do Couto Ferraz, secretário do
Supremo Tribunal, levar à sua presença a filha Zélia Ferraz para esta
receber algumas orações antes de ser conduzida a um convento na Europa.
Nhá Chica rezou e disse ao conselheiro que a filha, primeiramente, iria
se casar, ter muitos filhos e que estes seriam consagrados a Deus.
Somente no final de sua vida, Zélia seria de Deus”,
diz Yolanda. A profecia se cumpriu. Zélia casou, teve dez filhos e,
destes, cinco mulheres ingressaram na vida religiosa e três homens se
tornaram sacerdotes. Após enviuvar, com 60 anos, ela foi admitida na
Congregação das Irmãs Servas do Santíssimo Sacramento, com o nome de
irmã Maria do Santíssimo Sacramento.
Beatificação
No dia 4 de maiom de 2013,o Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos e Delegado do Papa Francisco, Cardeal Ângelo Amato,
presidiu a Missa de Beatificação de Nhá Chica. A celebração aconteceu no Santuário Nossa Senhora da Conceição, em Baependi (MG).
O
pedido de Beatificação de Nhá Chica foi aceito pela Igreja após
apresentação de um milagre por intercessão da Beata. A cura que concedeu
o reconhecimento dos altares aconteceu no coração de Ana Lúcia, uma
senhora que reside na cidade Baependi.
Canção Nova de Comunicação e Família Cristã