São José Calasanz nasceu no ano de 1557, em Peralta de la Sal, diocese de Urgel, em Aragão, Espanha. Ordenou-se sacerdote em 1583, e depois de ordenado trabalhou por algum tempo na diocése de Lérida e de La Seu d'Urgell.
Em 1592, aos 35 anos, com o título de doutor em teologia, embarcou para Roma com intenção de voltar em breve; mas seus planos iriam mudar radicalmente; buscava vantagens para ele, sem imaginar que encontraria sua vocação definitiva "na criançada romana, abandonada, sem estudos, sem futuro..."
A dura realidade da vida e..."Uma Escola Nova para os pobres"
A miséria moral e social de Roma, naquele final do século XVI, tocou fortemente seu coração; a educação era privilégio de poucos; as crianças perdiam a vida jogadas na rua, totalmente abandonadas; foi descobrindo o verdadeiro e dramático alcance da miséria, carências, ignorância e abandono da maior parte da população de Roma.
Não foi insensível a essa realidade e foi crescendo no coração o desejo de assumir uma missão difícil: "oferecer educação a meninos e jovens abandonados, levando-os a descobrir o valor da vida, despertando neles o desejo de crescer, de ser alguém, de libertar-se das ignorâncias, de ser filhos de Deus"
Os que mais sofriam eram as crianças que enchiam ruas, sem ter nada a fazer, sem presente nem futuro, sem escolas...; filhos de famílias pobres, sem mínimas condições de educação.
As escolas de Roma eram insuficientes e pobres, com pouquíssimos recursos; um dia fazendo uma visita na periferia da cidade, na paróquia de Santa Dorotéia, ficou surpreso com a escolinha que existia ao lado da igreja, aberta aos alunos humildes do bairro; foi o suficiente; gostou daquela idéia, e começou a colaborar; comprou os primeiros cadernos, canetas, livros...
Começou a trabalhar com entusiasmo, e seu coração ficou amarrado para sempre naquelas crianças; expressava assim aquela vocação radical: "encontrei em Roma a melhor maneira de agradar a Deus, educando as crianças pobres, e nunca abandonarei esta tarefa".
Era o ano 1597; com muita fé em Deus e amor pelos pequenos abandonados, tomou a grande decisão de sua vida: "dedicar-se exclusivamente à educação do menor carente"; nunca mais voltou atrás; o grande acontecimento de sua vida foi ter encontrado sua felicidade na entrega total à educação das crianças.
A partir daquele momento, sua obra foi ganhando mais espaço; chegaram mais alunos; ensinava a ler e escrever, e os bons costumes da piedade cristã; estava nascendo, de forma tão silenciosa como humilde, uma das obras mais importantes daquela época, confirmando um dos direitos mais fundamentais de toda pessoa: "o direito a ter educação, a ter uma escola gratuita e popular"; na época só os filhos dos ricos recebiam uma adequada educação.
O caminho não foi fácil; o grupo de meninos aumentava todo dia; José reuniu um pequeno grupo de colaboradores; as condições econômicas não eram boas; surgiram muitas dificuldades: falta de locais apropriados para as escolas, graves apertos econômicos, falta de professores que aceitassem com alegria o trabalho com os pobres, algumas calúnias e até invejas; tudo funcionava sustentado na mais generosa dedicação.
No entanto, nunca voltou atrás; havia encontrado a vocação definitiva; foi fiel até os 91 anos, uma fidelidade feita de sacrifício, de trabalho pesado, de oração calada, de muita presença de Deus; confiante, paciente, humilde; mesmo sendo ancião, animado e sempre firme; apesar das muitas contradições, homem feliz.
Sem essa fé total e sem sacrifício, a "Escola Nova" de Calasanz não teria ido para frente.
Pouco a pouco, a escola gratuita para crianças pobres, foi tomando consistência; era coisa nunca vista antes; a "Primeira Escola Popular Gratuita da história".
Meio século de entrega à Educação
Em 1600, Calasanz mudou as escolas para o Centro da Cidade; queria unir fé e cultura, educando "homens e cristãos" ao mesmo tempo, pessoas realizadas e felizes. A escola de Calasanz foi uma escola universal, aberta a todo tipo de pessoas: católicos, protestantes, judeus..., todos tinham lugar; nunca suas portas se fecharam para ninguém. Para dar estabilidade à sua obra, fundou a "Ordem Religiosa dos Padres Escolápios", a primeira Ordem Religiosa da Igreja dedicada totalmente ao ministério da educação cristã.
Durante cinqüenta anos as crianças foram a herança de Calasanz; a elas entregou sua longa vida, até os 91 anos, com uma paciência incomparável, digna dos grandes homens; ensinou a ler, escrever e fazer as primeiras contas a milhares de pequenos; formou inúmeros mestres; limpava pessoalmente as salas de aula; pedia esmolas pelas ruas para sustentar a obra.
Teve que lutar muito para manter a obra, ciente do serviço que podia prestar à sociedade; muitos não compreendiam; para defender as Escolas, escreveu um dos documentos mais vibrantes e corajosos, em favor da educação dos pobres:
"O ministério da educação é o mais digno, o mais nobre, o de maior mérito, o mais necessário, o mais natural, o primeiro, do qual depende a vida toda da pessoa; é o mais razoável por parte do Estados, pois eles deveriam ser os primeiros interessados em ter cidadãos bem preparados para a vida e para o trabalho"
Palavras admiráveis num homem que viveu há mais de quatro séculos; levantou polêmica; nos padrões da época, onde a educação era privilégio de poucos, muitos achavam que os pobres não deveriam ter acesso à educação; ele lutou contra toda discriminação.
Calasanz percebeu que uma das profundas raízes da miséria social era a ausência de uma boa educação; só a educação seria o remédio mais eficaz para renovar a sociedade (os tiranos fomentam a ignorância para dominar os povos); fundou a Primeira Escola Popular e Gratuita", e se constituiu em "Defensor dos Direitos da Criança à Educação"; aí reside sua genialidade e ousadia; profeta bem adiantado ao seu tempo, lutando pela liberdade da educação para todos.
Pagou caro seu empenho em dar aos pobres a educação; foi caluniado, perseguido, humilhado e até levado preso; superou toda contradição com a dignidade de um homem extraordinário.
Calasanz: um homem com visão de futuro
Calasanz viveu numa época de grandes transformações sociais; sua intuição original foi perceber que a raiz de muitos males da época provinham da ignorância da maior parte da população; por isso pensou que a educação seria a melhor solução aos problemas sociais.
Para ele, a educação deveria ser uma perfeita combinação entre fé e ciência; por isso, a escola que fundou pretendia:
Educar a fé de crianças e jovens, com uma boa catequese.
Instruir crianças e jovens de tal forma que pudessem inserir-se na sociedade como pessoas ativas e responsáveis . A grande descoberta de Calasanz foi criar uma escola gratuita para os pobres; desta forma, mostrou-se como um homem bem adiantado ao seu tempo, lutando pela liberdade do ensino para todos; queria educar os jovens em todas áreas que fossem necessárias para a vida.
Percebendo que não existia uma preparação sistemática do professor, Calasanz procurou a ajuda de homens famosos para conseguir a melhor qualificação para seus colaboradores; foi desta forma que entrou em contato com homens tão significativos como Galileu e Campanella; soube aproveitar a sabedoria deles, apesar de serem considerados como pessoas suspeitas; com espírito abertamente ecumênico, pediu a colaboração de todas as pessoas que pudessem dar uma contribuição, sem questionar idéias ou religião, sem discriminação de ninguém.
Viu a educação como a solução eficaz para os problemas sociais da época; a paz e o progresso de uma nação dependem, em boa medida, da qualidade de seu sistema de ensino; portanto, a escola é o caminho mais eficaz para a construção de uma sociedade justa e moderna; essa foi sua grande intuição.
Se rebelou contra uma sociedade que não reconhecia o valor da criança e que dava muita importância à distinção social; Calasanz iniciou um processo de renovação : o importante era que todas as crianças e jovens pudessem, através de uma boa educação, chegar a ser pessoas íntegras e honestas, com um futuro na vida.
Seu lema: "Escola para todos, obrigatória e gratuita" bem parece uma reivindicação dos nossos dias; o que Calasanz já tinha previsto no início do século XVII, hoje ainda custamos muito a conseguir; por isso é manifesta a genialidade deste pioneiro no campo da educação.
Padroeiro Universal das Escolas Populares
José enfrentou problemas sérios, intrigas e invejas, com uma serenidade fora do comum; com esperança que não se deixa abalar pelas dificuldades; foi denunciado, preso, conduzido aos tribunais; não reclamou; sua paciência exemplar sabia manter a calma no meio das tempestades, deixando assombrados os próprios acusadores.
A última comunhão de São José de Calasanz
O ponto culminante da incompreensão aconteceu quando o Papa, mal informado, fechou as Escolas por um Decreto; Calasanz sofreu muito, mas aceitou tudo com dignidade e confiança; muito tempo depois, o Papa Pio XII falou dele com as seguintes palavras : "O que São José de Calasanz sofreu nos últimos anos de sua longa vida, o que suportou com heróica virtude, resplandece como uma das mais fúlgidas e preciosas jóias na história".
Morreu aos 91 anos, em 25 de agosto de 1648, vendo tudo acabado.
Pouco depois, a sua obra foi novamente reconhecida por outro Decreto do Papa, e surgiu com mais força do que antes, chegando em poucos anos a muitos países de toda Europa; agora está estendida por todos os continentes. Em 1948 o Papa Pio XII consagrou-o como "Padroeiro universal das Escolas populares cristãs". Foi um "Grande Profeta entre os pequenos".
Por toda a vida dedicou-se à educação da juventude. São José de Calasanz é considerado um dos precursores da pedagogia moderna.
Anos depois de sua morte foi aberto o processo de beatificação e posteriormente subiu aos altares como São José de Calasanz. Sua festa é celebrada em 25 de agosto e seu patrocínio sobre a educação católica em 27 de novembro.
Várias ordens religiosas seguem o seu carisma e espiritualidade, entre elas as escolápias e a calasâncias.